Como escrever o desenvolvimento da redação e se dar bem no Enem

Postado em 29 de dez de 2022
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O desenvolvimento da redação é uma das partes da estrutura do texto dissertativo-argumentativo que mais exige dos candidatos do Enem.

Isso porque é onde você precisa apresentar seus argumentos para a proposta de intervenção que fará na conclusão e onde você mostra que tem domínio sobre o que está escrevendo. 

Pensando em ajudar você com essa tarefa, este artigo vai falar sobre o assunto.

Aqui, vamos discutir como deve ser estruturada a redação do Enem, o que é o desenvolvimento, como começar os parágrafos nessa parte do texto e quais palavras usar.

Confira:

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A estrutura de uma redação do Enem 

Além das questões objetivas, a prova do Enem também conta com uma redação, que segue o modelo dissertativo-argumentativo.

O tema da redação só é revelado no dia do exame, mas sempre traz uma problemática de cunho social. As principais características da redação do Enem são:

  • Modelo dissertativo-argumentativo;
  • Deve ter entre 7 e 30 linhas;
  • Precisa ter desenvolvimento embasado em argumentos concretos;
  • Deve respeitar os direitos humanos.

A redação é corrigida por uma banca avaliadora formada por avaliadores qualificados que corrigem cada redação uma a uma, à mão. Esses avaliadores não têm contato um com o outro, e cada redação passa por dois avaliadores.

A banca avaliadora utiliza cinco critérios para corrigir as redações e cada um desses critérios, chamados de competências, vale 200 pontos. É a habilidade do aluno de utilizar as cinco competências a seu favor que pode resultar em uma redação nota 1000.

Levando tudo isso em consideração, conseguimos chegar em alguns pontos-chave que devem estruturar o texto:

  • Seguir o modelo dissertativo-argumentativo;
  • Ter entre 7 e 30 linhas;
  • Respeitar os direitos humanos na intervenção proposta;
  • Mostrar o domínio que o candidato tem da língua portuguesa;
  • Ser coerente e coesa na apresentação de ideias;
  • Demonstrar boa bagagem sociocultural por parte do candidato.

Observados esses fatos, a estrutura de uma redação nota 1000 no Enem sempre apresenta:

  • Introdução: é a primeira informação do texto e, por isso, é nesse momento que o candidato precisa contextualizar o tema e já apresentar as teses que serão defendidas durante o desenvolvimento. Definir quais serão essas teses é, na verdade, o primeiro passo, antes mesmo de começar a escrever.
  • Desenvolvimento: é nesse espaço que o candidato irá explicar suas teses. Ou seja, é nos parágrafos de desenvolvimento que a ideia de solução é explicada de fato. Por isso, esse passo merece uma atenção maior do candidato, já que é aqui que vai conseguir mostrar seus conhecimentos de maneira mais abrangente.
  • Conclusão: é o fechamento do texto, sem necessidade de ser longa. O intuito aqui é dar um “resumo” do que foi falado anteriormente. É interessante pensar nas seguintes informações: ações sugeridas, quem seria responsável por elas, quais seriam seus efeitos e como isso será feito.  

O mais comum é que a redação do Enem seja dividida em quatro parágrafos contendo entre cinco e sete linhas: um para a introdução, dois para o desenvolvimento e um para a conclusão.

🔵 Leia também: O que zera a redação do Enem?

O que é a parte de desenvolvimento da redação?

O desenvolvimento da redação é uma das partes que compõe a estrutura do texto, como você viu acima, sendo os outros a introdução e a conclusão.

O desenvolvimento também é a parte com mais conteúdo da redação. Isso porque é dentro dele que você precisa defender o seu ponto de vista sobre a problemática apresentada usando argumentos bem embasados.

Como o modelo cobrado pelo Enem é dissertativo-argumentativo, é esperado que o candidato apresente argumentos consistentes sobre o assunto. Porém, o ideal é que você não escolha mais do que dois argumentos para defender a sua intervenção.

Isso porque o máximo de linhas da redação do Enem é 30 e você pode ser prejudicado por escrever demais e, por isso, argumentar de maneira rasa.

Se você for seguir a estrutura de 4 parágrafos, sendo os 2 intermediários dedicados à argumentação, é indicado que você utilize a primeira frase do segundo parágrafo (o primeiro do desenvolvimento) para apresentar os dois argumentos.

Em seguida, você os desenvolve no restante do desenvolvimento. Algumas dicas interessantes para esse momento são:

  • Use frases curtas e objetivas - indo direto ao ponto para não perder linhas;
  • Cite exemplos relacionados ao tema - livros, filmes, falas de estudiosos e dados estatísticos;
  • Seguir uma ordem cronológica quando for apresentar fatos;
  • Usar conectivos para que os parágrafos não fiquem perdidos.

 

 

 


Tipos de argumento que você pode usar no desenvolvimento da redação

E para você conseguir apresentar suas ideias no desenvolvimento da redação e argumentar como a banca espera, existem alguns tipos de argumentos que você pode utilizar.

Confira:

  • Exemplificação: você usa o argumento de exemplificação quando quer deixar o seu ponto de vista mais compreensível para o leitor.
  • Comparação ou Analogia: você usa esse argumento quando compara uma situação, ou faz analogias, a obras de literatura, cinema, TV, etc. A ideia é apresentar uma ideia semelhante ao que foi usado na obra.
  • Alusão histórica: é bastante parecido com a analogia, mas a sua comparação vai ser um fato histórico em vez de uma mídia. Usando esse argumento você faz uma opinião crítica ao recorte histórico comparando com a problemática.
  • Evidência (ou comprovação): é baseada em dados estatísticos ou informações de domínio público. São ótimas para embasar o seu ponto de vista e intervenção. Mas não esqueça de que as fontes desse tipo de argumentação precisam ser citadas.
  • Autoridades: é quando você usa uma relação direta ou indireta de pessoas ou fontes que tem autoridade sobre o assunto, como, por exemplo, um especialista renomado no campo de estudo da problemática.

🔵 Leia também: Quantos pontos precisa fazer para passar no Enem?

Como começar um parágrafo de desenvolvimento da redação

Para conseguir escrever bons parágrafos de desenvolvimento, você precisa voltar ao planejamento do texto porque cada tese que você definiu como solução precisa ser abordada.

Também é uma boa ideia buscar informações nos textos motivadores, que podem ajudar a embasar suas ideias. Dessa forma, cada uma das teses que você pensou se torna um parágrafo diferente no desenvolvimento.

Para construir esses parágrafos de desenvolvimento você precisa:

  • deixar claro de qual “parte” do problema você está falando;
  • colocar em seguida qual sua sugestão de solução (tese);
  • explicar essa tese com mais detalhes (argumentos).

Lembre-se que esses parágrafos precisam fazer sentido entre si. Isso quer dizer que:

  • a ideia de um não pode contradizer a anterior, apenas se realmente for esse o objetivo (cuidado com os conectivos utilizados);
  • as ideias precisam estar coerentes entre si e fazerem sentido dentro da ideia geral;
  • busque argumentos e embasamentos relacionados, mas indicar que suas teses podem ser trabalhadas juntas para solucionar um problema.

Escrever bem é questão de prática. Por isso, a dica é treinar cada vez mais para conseguir se acostumar com o formato e encontrar as melhores construções para sua maneira de escrever.

Outro ponto muito importante é treinar a interpretação textual a fim de conseguir entender de fato qual o tema abordado (amplo) e qual problema está sendo discutido de fato (específico).

Para isso, uma boa dica é praticar a leitura de diferentes tipos de texto, desde informativos até de ficção. Isso faz com que o cérebro se esforce cada vez mais e seja treinado para atender diferentes estilos.

🔵 Leia também: Espelho da redação do Enem: o que é, como consultar e o que é avaliado

Expressões para usar no desenvolvimento da redação

Como vimos, os parágrafos de desenvolvimento são os mais importantes de uma redação de Enem e precisam, antes de tudo, ter coerência e coesão entre si.

Isso quer dizer que as ideias precisam ser complementares, sem que um parágrafo “negue” ou contradiga o outro. Além disso, outro ponto muito importante é o uso dos conectivos.

Saber utilizar as expressões corretamente na hora de fazer a redação contribui para que o texto fique mais fluido e coeso. Veja algumas das principais expressões para começar seu parágrafo de desenvolvimento da redação do Enem:

  • Alguns argumentam que...
  • Além disso...
  • Isso sem contar que...
  • Outros, porém, ...
  • Os registros históricos de ___ e _____ indicam que…
  • Em consequência disso, é possível notar que…
  • Dentre as razões que levaram _____, é possível destacar…
  • A partir dessa ideia, é possível considerar que…
  • Outro fator existente ...
  • Da mesma forma,...
  • Outra preocupação constante...
  • Ainda convém lembrar...
  • Por outro lado...
  • Porém, mas, contudo, todavia, no entanto, entretanto...

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Exemplos de desenvolvimento de redação do Enem

Em 2022, quando o tema foi “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”, 19 candidatos chegaram à nota máxima.

Eles compartilharam com o G1 os espelhos de suas redações e nós vamos figurar alguns deles aqui para entendermos como esses candidatos trabalharam o desenvolvimento da redação:

Luís Felipe Brito, 24 anos

Diante desse cenário, existe a falta da promoção de um ensino eficiente sobre as populações tradicionais. Sob esse viés, as escolas, ao abordarem tais povos por meio de um ponto de vista histórico eurocêntrico, enraízam no imaginário estudantil a imagem de aborígenes cujas vivências são marcadas pela defasagem tecnológica. A exemplo disso, há o senso comum de que os indígenas são selvagens, alheios aos benefícios do mundo moderno, o que, consequentemente, gera um preconceito, manifestado em indagações como “o índio tem ‘smartphone’ e está lutando pela demarcação de terras?” – ideia essa que deslegitima a luta dos silvícolas. Entretanto, de acordo com a Teoria do Indigenato, defendida pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, o direito dos povos tradicionais à terra é inato, sendo anterior, até, à criação do Estado brasileiro. Dessa forma, por não ensinarem tal visão, os colégios fomentam a desvalorização das comunidades tradicionais, mediante o desenvolvimento de um pensamento discriminatório nos alunos.

Além disso, outro desafio para o reconhecimento desses indivíduos é a carência do progresso sustentável. Nesse contexto, as entidades mercadológicas que atuam nas áreas ocupadas pelas populações tradicionais não necessariamente se preocupam com a sua preservação, comportamento no qual se valoriza o lucro em detrimento da harmonia entre a natureza e as comunidades em questão. À luz disso, há o exemplo do que ocorre aos pescadores, cujos rios são contaminados devido ao garimpo ilegal, extremamente comum na Região Amazônica. Por conseguinte, o povo que sobrevive a partir dessa atividade é prejudicado pelo que a Biologia chama de magnificação trófica, quando metais pesados acumulam-se nos animais de uma cadeia alimentar – provocando a morte de peixes e a infecção de humanos por mercúrio. Assim, as indústrias que usam os recursos naturais de forma irresponsável não promovem o desenvolvimento sustentável e agem de maneira nociva às sociedades tradicionais.

Carina Moura, 18 anos

Nesse sentido, é inegável que o escasso interesse político em assegurar o respeito à cultura e ao modo de vida das populações tradicionais frustra a valorização desses indivíduos. Isso acontece, porque, como já estudado pelo sociólogo Boaventura de Sousa Santos, há no Brasil uma espécie de “Colonialismo Insidioso”, isto é, a manutenção de estruturas coloniais perversas de dominação, que se disfarça em meio a avanços sociais, mas mantém a camada mais vulnerável da sociedade explorada e negligenciada. Nessa perspectiva, percebe-se o quanto a invisibilização dos povos tradicionais é proposital e configura-se como uma estratégia política para permanecer no poder e fortalecer situações de desigualdade e injustiça social. Dessa forma, tem-se um país que, além de naturalizar as mais diversas invasões possessórias nos territórios dos povos tradicionais, não respeita a forma de viver e produzir dessas populações, o que comprova uma realidade destoante das produções literárias do Romantismo.

Ademais, é nítido que as dificuldades de promover um verdadeiro reconhecimento e valorização das comunidades tradicionais ascendem à medida que raízes preconceituosas são mantidas. De fato, com base nos estudos da filósofa Sueli Carneiro, é perceptível a existência de um “Epistemicídio Brasileiro” na sociedade atual; ou seja, há uma negação da cultura e dos saberes de grupos subalternizados, a qual é ainda mais reforçada por setores midiáticos. Em outras palavras, apesar da complexidade de cultura dos povos tradicionais, o Brasil assume contornos monoculturais, um vez que inferioriza e “sepulta” os saberes de tais grupos, cujas relações e produções, baseadas na relação harmônica com a natureza, destoam do modelo ocidental, capitalista e elitista. Logo, devido a um notório preconceito, os indivíduos tradicionais permanecem excluídos socialmente e com seus direitos negligenciados.

Maria Fernanda Simionato, 21 anos

Sob esse viés, é válido destacar a fundamentabilidade dos povos tradicionais como detentores de pluralidade histórica e cultural, que proporciona a disseminação de uma vasta sabedoria na sociedade. Nesse sentido, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) afirma as heranças tradicionais desses grupos como constituintes do patrimônio imaterial brasileiro. Dessa forma, sabe-se que a contribuição desses indivíduos para a formação intelectual do corpo social engloba práticas de sustentabilidade, agricultura familiar e, inclusive, confere a eles uma participação efetiva na economia do país. Assim, evidencia-se a extrema relevância dessas comunidades para a manutenção de conhecimentos diferenciados, bem como para a evolução da coletividade.

Entretanto, a falta de representantes políticos eleitos para essa classe ocasiona a desvalorização das suas necessidades sociais, que não são atendidas pelos demais legisladores. Nesse contexto, a Constituição Federal assegura direitos inalienáveis a todos os cidadãos brasileiros, abordando o dever de inclusão de povos tradicionais nas decisões públicas. Desse modo, compreende-se que a existência de obstáculos para o reconhecimento da importância de populações nativas se relaciona à ineficácia na incorporação de representantes que sejam, de fato, interessados na perpetuação de saberes e técnicas ancestrais propagados para esses grupos. Sendo assim, comprova-se a ocorrência de um grave problema no âmbito coletivo, o qual impede a garantia plena dos direitos básicos dessas pessoas.

Agora que você já entendeu tudo sobre o desenvolvimento da redação do Enem, não deixe de colocar nossas dicas em prática para tirar uma nota boa!

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Mariana Bortoletti

Por Mariana Bortoletti

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Mercadóloga, jornalista e especialista em escrita criativa.